Resultado de um ano de monitoramento da água na região hidrográfica é preocupante 

3 de fevereiro, 2023


Créditos: Luiza Bragança

Somente quatro dos 93 pontos monitorados em toda a Região Hidrográfica da Baía de Guanabara apresentaram Índice de Qualidade da Água classificada como boa nos relatórios mensais do programa de Monitoramento Quali-Quantitativo, realizado pelo Comitê da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara (CBH Baía de Guanabara). De acordo com o estudo, iniciado em outubro de 2021, o despejo de esgoto e o descarte de lixo nos diversos corpos hídricos que compõem a região, especialmente em áreas de alta densidade demográfica, são motivos de grande preocupação para quem lida com o tema.  

Com o objetivo de mapear a qualidade da água e traçar ações junto às autoridades estaduais e municipais que visam preservar os corpos d’água, o programa vai analisar por 30 meses a realidade hídrica dos 17 municípios inseridos, parcial ou totalmente, na região hidrográfica.  

Todos os meses, equipes coletam amostras nos 93 pontos selecionados e leem os dados obtidos, a partir de 13 parâmetros técnicos – 10 deles determinantes para o Índice de Qualidade da Água (IQA). Parte da geografia da segunda maior metrópole do país, o Rio de Janeiro, a BG apresenta um histórico de ocupação desordenada e ineficiência no acesso à universalização dos serviços de saneamento básico. 

Para a Secretaria Executiva do CBH Baía de Guanabara, responsável pela contratação do estudo, mais de um ano após o início do monitoramento, já é possível traçar um perfil de cada ponto em que as coletas têm sido realizadas. O levantamento tem evidenciado uma queda gradativa da qualidade da água ao longo do trajeto dos rios, comprovando, por meio de dados concretos, o lançamento de efluentes domésticos in natura nos corpos hídricos, com consequente degradação da qualidade da água das lagoas costeiras e da Baía de Guanabara. 

O escopo do levantamento é resultado de uma construção coletiva que envolveu o CBH Baía de Guanabara, sua secretaria executiva – a Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Agevap) –, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a Prefeitura do Rio de Janeiro, as universidades Federal do Rio de Janeiro, Federal Fluminense e Estadual do Rio de Janeiro, a concessionária municipal Águas de Niterói e especialistas. O investimento integral de R$ 2.293.350 está sendo realizado pelo CBH Baía de Guanabara, por meio de recursos oriundos da cobrança pelo uso da água. 

Realidade dos Subcomitês  

O diagnóstico aponta que a qualidade da água piora à medida em que aumenta a densidade demográfica. É possível observar uma pior qualidade da água dos rios localizados no território do Subcomitê Oeste, onde, na média após 13 meses de monitoramento, todos os locais foram classificados entre médio e muito ruim. Na área do Subcomitê do Sistema Lagunar de Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro, é observado padrão semelhante, exceto para os pontos localizados mais a montante (próximos à nascente).  

Na área do Subcomitê da Lagoa Rodrigo de Freitas, também na capital fluminense, os pontos foram classificados como de qualidade ruim, média ou boa, dependendo da localização, a montante (com menos ocupação humana) ou a jusante (com mais ocupação e pressão antrópica). Na porção leste da Baía de Guanabara, ainda é possível encontrar uma qualidade geral um pouco melhor.  

Já no Sistema Lagunar de Itaipu e Piratininga, em Niterói, e na bacia do Sistema Lagunar de Maricá, a qualidade alternou entre média e ruim, sendo que na área do Subcomitê Leste foram identificados mais pontos com qualidade média e boa, demonstrando a importância da preservação ou recuperação desses corpos hídricos tão importantes para o abastecimento público de água das cidades localizadas nessa região, assim como Maricá, Niterói e Ilha de Paquetá.  

É importante ressaltar que apenas quatro pontos monitorados apresentaram bom Índice de Qualidade da Água, sendo todos locais onde ainda não houve ocupação humana significativa. O estudo confirma, portanto, a ineficiência da gestão pública no que diz respeito à coleta e ao tratamento do esgoto, mas também levanta os dados necessários para que sejam pensadas e efetivadas ações públicas para resolver os problemas.  

Ações e soluções 

Como o projeto avalia as condições dos corpos hídricos no que se refere à qualidade e quantidade de água, ele pode e deve ser utilizado para que a sociedade, de maneira geral, possa cobrar o poder público para a melhoria das condições atuais.  

No mês de fevereiro de 2022, por exemplo, após quatro meses de monitoramento, foi identificada uma calha de drenagem com lançamento de esgoto na bacia contribuinte na Lagoa Rodrigo de Freitas, que era ligada diretamente à Favela da Rocinha. Com essa informação, a concessionária Águas do Rio interveio e conectou a calha ao sistema de tratamento de esgoto, solucionando, assim, o lançamento irregular neste ponto específico.  

Além disso, o monitoramento também tem produzido uma extensa base de dados para pesquisadores, que carecem desse tipo de informação, ainda mais com tamanha área de abrangência, tempo e periodicidade. Para ampliar as formas de avaliar a qualidade ambiental dos recursos hídricos uma parceria entre o Comitê, o Inea e universidades dará origem a outros monitoramentos na Região Hidrográfica da Baía de Guanabara – cinco novos projetos deverão ser iniciados nos próximos meses: Monitoramento por satélite das florações algais nocivas (FANs) na Baía de Guanabara; Monitoramento dos Contaminantes emergentes; Vírus entéricos na Água; Avaliação da carne de pescado; e Ampliação do monitoramento sistemático da Qualidade da Água. 

De acordo com a Secretaria Executiva do CBH Baía de Guanabara, os dados gerados também subsidiarão o futuro enquadramento dos corpos hídricos, de modo que se possa estabelecer o nível aceitável para o uso que se pretende e quanto tempo será necessário para isso. 

Os relatórios mensais (técnico, simplificado e fotográfico) estão disponíveis na página do Comitê da Baía de Guanabara, no link: https://comitebaiadeguanabara.org.br/monitoramento-quali-quantitativo/