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No Dia Mundial do Meio Ambiente, a pergunta latente é: ‘O Brasil está preparado para as mudanças climáticas?’

3 de junho, 2022


Christianne Bernardo, Presidente do Comitê da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara

Rastro da devastação causada pela chuva no Morro da Oficina, em Petrópolis, 1/02/2022 — Foto: Marcos Serra Lima/g1


Os eventos climáticos atípicos têm sido cada vez mais frequentes no Brasil. Estamos acompanhando com tristeza a devastação que fortes chuvas causaram em Pernambuco nesses últimos dias. Estudos sobre as mudanças climáticas já revelaram que eventos extremos, como ondas de frio e de calor, chuvas em grandes volumes ou extensos períodos de estiagem, serão cada vez mais frequentes no planeta. Mas, o Brasil está preparado?
A tragédia que se abateu em Pernambuco, o ciclone extratropical Yakecan, que derrubou as temperaturas em boa parte do país e causou frio histórico no mês de maio, o desastre de Petrópolis neste ano e as enchentes que atingiram cidades de Minas Gerais e da Bahia no fim de 2021 e início de 2022 são apenas alguns exemplos recentes de eventos climáticos atípicos.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado neste ano, a “crise do clima” é causada pela ação humana, com efeitos irreversíveis, e vai vitimizar a parcela mais pobre e mais vulnerável da população mundial. O relatório, que alerta para secas e ondas de calor, incêndios, inundações, insegurança alimentar, escassez de água, aumento do nível de corpos hídricos, doenças e outros impactos, aponta as Américas Central e do Sul (onde está o Brasil) como regiões altamente expostas a esses efeitos cada vez mais catastróficos. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, classificou o relatório como “um atlas do sofrimento humano”.
Na região hidrográfica da Baía de Guanabara, a situação não é diferente. Já enfrentamos verões menos chuvosos e com temperaturas mais elevadas, confluência de fatores que causam diversos problemas para uma população de cerca de 10 milhões de pessoas, que representa 80% da população do estado do Rio de Janeiro. 


A fim de mapear o cenário atual e identificar perspectivas futuras, o Comitê da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara está elaborando o Plano de Recursos Hídricos da Região V (PRH-RV), que já aponta alguns indicativos preocupantes. Segundo estudos contidos no documento, até 2045, o prognóstico é de aumento da temperatura e diminuição das chuvas. Isso significa que a carga hídrica da região, que apresenta alta densidade demográfica, está em risco. 


O que vemos na Região Hidrográfica da Baía de Guanabara é um aumento da carga poluidora que chega nos rios e córregos e acabam desaguando na baía e no mar. A ocupação irregular é um dos fatores que agravam significativamente o problema e o número de imóveis construídos em áreas impróprias e sem infraestrutura básica, como rede de água e esgoto, só cresce. 


Sem uma coleta adequada de lixo e esgoto, como podemos pensar em qualquer ação ambiental? A defesa do meio ambiente é construída de forma integrada e precisa contar com instrumentos e políticas públicas. O cidadão atendido em suas necessidades básicas é um vetor de ações ambientais com muito mais condições do que o que não está inserido neste sistema mínimo de sobrevivência.


O Comitê da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara é uma entidade que cria um ambiente de construção coletiva e discussão entre três pilares da sociedade – Poder Público, Usuários (pessoas jurídicas como concessionárias e empresas) e a Sociedade Civil – para que, como todos
“sentados à mesa”, possamos encontrar meios de garantir o atendimento da população, propor melhores usos de recursos naturais, principalmente dos recursos hídricos, e incentivar as boas práticas de recuperação e preservação do meio ambiente.


O discurso ambiental e de prevenção aos eventos climáticos atípicos não pode, e não deve, ser uma pauta descolada da realidade das pessoas. Ele deve estar nas decisões de compra e de consumo de recursos, mesmo as menores e mais corriqueiras. E é só garantindo a cidadania que a preservação ambiental será efetiva.