Baía de Guanabara

Após desmobilização da UTR Arroio Fundo, efluentes correm sem tratamento para Baía de Guanabara

Em dezembro de 2010, a prefeitura do Rio de Janeiro anunciava a inauguração da Unidade de Tratamento do Rio (UTR) Arroio Fundo, pertencente ao complexo hidrográfico de Jacarepaguá. Com investimentos de R$ 26 milhões, a obra teve como objetivo manter as águas do Rio Arroio Fundo e da Lagoa de Jacarepaguá limpas, beneficiando cerca de 300 mil moradores de Jacarepaguá, Anil, Rio das Pedras, Cidade de Deus e Vila do Pan.

Passados quase doze anos, após assumir a distribuição de água e a coleta e tratamento de esgoto na Barra da Tijuca e nos bairros vizinhos, em março, a concessionária Iguá Saneamento decidiu desativar a UTR, com base em um laudo que indicava que a unidade não era eficiente. No passado, a prefeitura já havia sinalizado que o custo para mantê-la era muito alto, R$ 10 milhões por ano. A desmobilização causou grande preocupação aos membros da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca (CCBT), que procurou o Tribunal de Contas do município para pedir explicações.

De acordo com o oceanógrafo, engenheiro costeiro e ambiental, vice-presidente da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca, David Zee, a UTR foi retirada sem o descomissionamento adequado, com base em uma amostragem insuficiente, não se levando em conta a oscilação da qualidade da água conforme momento, local de retirada, volume tratado e correntezas. De acordo com as normas técnicas, o índice de tratamento da água deve ser de 95%, enquanto a amostra de flutuação que baseou a decisão de paralização da UTR apontava 92%.

“Foi desmontado um sistema que retirava em torno de 93% a 96% sedimentos e esgoto do rio e, desde março, esses efluentes correm sem tratamento nenhum direto para a lagoa do Camorim, piorando ainda mais as condições do sistema lagunar da região”, diz. Segundo ele, o desmonte da estrutura se deu devido a não contemplação da UTR no plano de saneamento do contrato de concessão da empresa Iguá. A emissão de efluentes sem tratamento é um dos principais causadores da poluição das águas da Baía de Guanabara.

Na opinião de Zee, os sistemas de tratamento utilizados hoje não são suficientes para limpar um rio que passou 20, 30 anos sem nenhuma solução de saneamento. “As ecobarreiras e outros sistemas ajudam muito. Mas, precisamos levar em consideração que estamos falando de rios mortos, que daqui dez anos podem nem existir mais se não forem aplicadas soluções inovadoras e mais eficientes, com resposta rápida em para seu tratamento”, avalia o especialista. Ele informa que a CCBT avalia protocolar um processo de crime ambiental, devido ao desague de efluentes sem tratamento na Baía de Guanabara.

Como funcionava a UTR Arroio Fundo

Localizada junto à Linha Amarela, a UTR do Arroio Fundo tratava o esgoto que passa pelos rios Arroio Fundo e Grande – em uma vazão de até 1.800 litros por segundo – melhorando em 92% a 96% a qualidade da água despejada no complexo lagunar de Jacarepaguá.

A UTR utilizava um inovador sistema de flotação (processo de separação de partículas sólidas de diferentes naturezas pela suspensão em um líquido do qual elas serão removidas) das partículas sólidas presentes com utilização de aeração e com auxílio de produtos coagulantes. Dessa forma, esse processo promove a aglutinação das partículas a microbolhas de ar que flutuam, gerando o lodo, recolhido na superfície. O sistema contava ainda com uma eficiente cerca de retenção de lixo, que retém a poluição mais grosseira. O lodo tinha como destino o emissário terrestre da Cedae, portanto, não havendo necessidade de centrífuga.

Confira neste vídeo mais detalhes sobre como funcionava a UTR de Arroio Fundo.




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