Bacia do Rio Guapi-Macacu. Foto: arquivo.
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Comitê cria força-tarefa para acompanhar desdobramentos das investigações de contaminação do Sistema Imunana-Laranjal

Operação do sistema foi afetada no início de abril devido à poluição por tolueno


A operação de captação de água do Sistema Imunana-Laranjal, localizada na bacia do rio Guapi-Macacu, na sub-região Leste, foi interrompida no início de abril devido à presença de tolueno (substância tóxica utilizada na fabricação de gasolina) na água.

A paralisação, que durou cerca de três dias, impactou o abastecimento de água dos municípios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá (distritos de Inoã e Itaipuaçu) e Rio de Janeiro (região da Ilha de Paquetá) e afetou diretamente cerca de dois milhões de habitantes. A Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público Estadual estão investigando o caso. Como forma de acompanhar os desdobramentos, compartilhar informações sobre a origem da contaminação e buscar soluções para o problema, a diretoria do CBH Baía de Guanabara criou uma força-tarefa com o apoio dos municípios abastecidos pelo Sistema Imunana-Laranjal, empresas de abastecimento de água, técnicos e equipe de comunicação. Desde a sua criação, foram realizadas coletas e análises de amostras de água e solo da bacia, além de reuniões e visitas técnicas para acompanhamento do caso. Também foi promovida no fim de junho uma audiência pública sobre a situação da bacia e dos atingidos pela crise.

Ações de campo

Uma das ações coordenadas pela força-tarefa foi a coleta de amostras de água e solo no local do vazamento, com a finalidade de identificar a quantidade de BTEX (benzeno, tolueno, etil-benzeno e xilenos), hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) e hidrocarbonetos de petróleo (TPH fingerprint) no solo. A ação teve a participação da Prefeitura de Guapimirim, da ONG Guardiões do Mar e do Laboratório de Estudos Marinhos e Ambientais (LabMAM) da PUC-Rio, que é coordenado pelo professor Renato Carreira, a quem coube analisar as amostras. De acordo com o relatório, 14 dos 16 pontos analisados apresentaram de 0,028 a 0,8 microgramas por litro (µg/l) de BTEX – em determinado ponto, a quantidade do composto químico foi menor que 0,028 (µg/l). Os pontos coletados compreendem o rio Guapi-Macacu, tanto na nascente quanto no seu curso, rio Macacu e rio Guapiaçu, conforme mapa abaixo. O laudo pode ser visto neste link. Além disso, a coleta resultou em um artigo sobre o impacto do tolueno no pescado da região, em que os autores tratam da substância e apontam o nível suficiente para impactar a qualidade das carnes de pescado da região.

Mapa dos pontos de coleta. Fonte: CBH Baía de Guanabara

Entre as atividades de campo da força-tarefa, também foi realizada uma vistoria na bacia do Guapi-Macacu para avaliar a qualidade da água da região, os mecanismos de tratamento e propor alternativas para a redução de danos, como contenção dos canais de drenagem para o rio Guapi-Macacu e monitoramento do manancial.

Vistoria na bacia do Rio Guapi-Macacu. Foto: arquivo

A vistoria contou com a participação de agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) que atuam no estado do Rio de Janeiro em emergências ambientais; representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); do Instituto Estadual do Ambiente (Inea); do Conselho Regional de Química – 3ª Região (CRQ); da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj); e de pescadores representados pela Associação de Homens e Mulheres do Mar (AHOMAR).

Articulação

Logo após a criação da operação, a força-tarefa se reuniu com representantes do ICMBio, do Ibama/RJ e do Grupo de Trabalho Saneamento Básico, Desastres Socioambientais e Mudanças do Clima do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), para tratar de ações a serem executadas na região.

Reunião na sede do Ibama. Foto: arquivo.

Além disso, foram realizadas duas reuniões com lideranças da pesca artesanal para debater os impactos da contaminação para a atividade e para os pescados. Na primeira delas, o Ibama se colocou à disposição e a Comissão de Meio Ambiente da Alerj articulou uma reunião com o presidente do Inea. Já na segunda reunião, ocorrida na sede do Ibama, em 29 de abril, foram prestados esclarecimentos sobre os impactos do tolueno nos pescados da região e tomados encaminhamentos, como a solicitação de audiência pública sobre o caso.

Audiência pública

Foto: Sarah Belo/Prefácio Comunicação

Em 28 de junho, o CBH Baía de Guanabara, representado por seu Diretor-Técnico, Halphy Rodrigues, participou de audiência pública realizada pela Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Alerj, que tratou da segurança hídrica da bacia hidrográfica Guapi-Macacu, região onde está localizado o sistema de captação de água Imunana-Laranjal. Durante a audiência, pescadores e produtores rurais relataram os impactos da poluição por tolueno nas atividades e cobraram respostas quanto ao controle e investigação da contaminação. Além disso, concessionárias de água, petrolíferas e outras instituições apresentaram ações que estão sendo realizadas de mitigação dos danos e de combate à poluição dos corpos hídricos da região.

Entre outras deliberações, a Comissão propôs a elaboração de um projeto que lei que autorize o governo do estado a criar um auxílio financeiro aos pescadores e produtores rurais impactados pela contaminação por tolueno.

Membro do CBH Baía de Guanabara e presidente da Rede AHOMAR, Alexandre Anderson relatou como os pescadores foram atingidos. “Registramos toneladas de peixes mortos, produção que não mais será reposta. Foram milhares de peixes, caranguejos e camarões perdidos. Vendíamos o peixe por até R$ 15 o quilo, valor que hoje não chega a R$ 4. Muita gente não quer consumir porque a gente está atuando numa área contaminada.”

Além disso, o diretor-secretário do CBH Baía de Guanabara, Rogério Rocco, que representou a superintendência do Ibama no Rio de Janeiro, fez um rico relato sobre o histórico dos processos de licenciamento e acidentes ocorridos na área. Rocco também alertou sobre os recursos financeiros comprometidos com a recuperação ambiental da região. “Os atores envolvidos devem ser acionados, pois ainda há tempo de corrigir a destinação de investimentos de mitigação dos impactos do polo petrolífero.”

As atualizações sobre a força-tarefa do CBH Baía de Guanabara podem ser acompanhadas no site do colegiado.




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