O encontro foi realizado em ambiente virtual. Foto: divulgação
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3° Encontro de Educação Ambiental do CBH Baía de Guanabara mostra avanços da temática na Região Hidrográfica

Evento realizado em agosto deu impulso a discussões sobre Plano de Educação Ambiental

Com o propósito de refletir e incentivar o diálogo dentro dos comitês, fortalecer e centralizar as discussões relacionadas ao processo de construção do Plano de Educação Ambiental e planejar ações nesse sentido, entre os dias 27 e 30 de agosto, o CBH Baía de Guanabara promoveu seu 3° Encontro de Educação Ambiental. Realizada de forma virtual, a reunião contou com a participação de integrantes da sociedade civil organizada, além de diversos membros do colegiado, que assistiram a várias apresentações de experiências exitosas relacionadas ao tema.

Jacqueline Guerreiro, coordenadora da Câmara Técnica de Educação Ambiental e Mobilização (CTEM) no biênio 2022-2024, ressaltou que o evento possibilitou “começar a conhecer o que se faz de educação ambiental na região do comitê Baía de Guanabara, alinhado com a perspectiva dos recursos hídricos e da água como direito fundamental". E informou que um diagnóstico mais preciso sobre o tema será realizado pela organização responsável por colocar em prática o edital para construção do Plano de Educação Ambiental do Comitê.

Inicialmente, foi apresentada a perspectiva histórica do desenvolvimento do tema no CBH Baía de Guanabara. Em 2012, um diagnóstico resultante da Cúpula dos Povos apontou a ausência de planos de educação ambiental nos Comitês de Bacias Hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro. A complexidade da tarefa exigia organização, ação política, definição de recursos e aprovação de diretrizes. O contexto atual, por sua vez, ilustra uma nova etapa, de fortalecimento e consolidação do tema.

A primeira roda de diálogos abordou o tema da juventude, presente nas políticas públicas que estruturam a educação ambiental no Rio de Janeiro, em diversos municípios que abrangem os territórios de atuação do CBH Baía de Guanabara e nas diretrizes da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Mauro Pereira, diretor executivo da ONG Defensores do Planeta, apresentou o programa Polo de Juventude ODS Zona Oeste, desenvolvido na área de planejamento 5. “A Zona Oeste é uma região que há anos carece de investimentos e políticas públicas e concentra alto índice de evasão escolar e mortalidade de jovens, além de problemas ambientais causados pela presença de indústrias poluidoras. O Polo de Juventude desenvolvido na região é um dos únicos a contar com a chancela da Unesco e tem feito importantes trabalhos para mobilizar, incluir e empoderar a juventude através da educação ambiental de qualidade, crítica e transformadora.”

Nesse sentido, Rosilane Alves, coordenadora de Educação Ambiental na Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS), apresentou políticas públicas desenvolvidas nos territórios de atuação do Comitê da Baía de Guanabara. “O Ambiente Jovem, o maior programa de educação ambiental do Rio de Janeiro, em dois ciclos concedeu bolsas e envolveu 16.500 alunos, alcançou diversos municípios em diferentes núcleos de pertencimento, promovendo cursos, atividades online, planos de intervenção e oficinas presenciais de capacitação e ensino envolvendo a educação ambiental nos territórios de todo o Estado do Rio”, destacou.

Rejany Ferreira, representante da sociedade civil no CBH Baía de Guanabara e diretora presidente do colegiado no biênio 2024-2026, apresentou trabalhos desenvolvidos pela Rede de Empreendimentos Sociais para o Desenvolvimento Socialmente Justo, Democrático e Sustentável (REDECCAP). Na vertente do meio ambiente, “a rede tem a Oficina Portinari, que realiza trabalhos artísticos com crianças, adolescentes e jovens, ajudando a refletir sobre os cursos d’água e o tema da educação ambiental no território de Manguinhos. Além disso, existem oficinas de leitura que desenvolvem no público infanto juvenil a capacidade crítica acerca da reciclagem, da preservação do meio ambiente, onde é trabalhado num segundo momento o conhecimento sobre a reutilização de materiais em oficinas musicais, em que as crianças e jovens constroem instrumentos com lixo reciclável”, ilustrou.

O tema da mobilização social foi o eixo principal trabalhado na segunda rodada de diálogos promovida pelo evento. Felipe Queiroz, diretor executivo do Instituto Floresta Darcy Ribeiro (Amadarcy), compartilhou a experiência do “Viveiro Escola, que mobiliza comunidades, atuando em escolas e compartilhando o conhecimento da educação ambiental na prática, através da produção e manejo de mudas de mangue para plantio em áreas de manguezal degradadas pela ação humana.”

Intitulado Reserva Mundial da Biosfera pela Unesco, o Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET) protege um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro. Ricardo Voivodic, gestor do PESET, lembrou que “a unidade de preservação tem um caráter especial, pois foi a primeira criada como fruto do anseio popular”, demonstrando a força da mobilização social como garantia da consolidação prática da educação ambiental.

Denis Rodrigues, representante do Instituto de Ação Socioambiental (ASA), ressaltou a importância da mobilização social nos territórios. “Na mata atlântica, por questões legais, toda propriedade deve ter pelo menos 20% de reserva com mata nativa. No contato com os proprietários das terras, mobilizamos e trazemos essas informações, além de garantirmos o trabalho de restauração das áreas de preservação permanente, com as lições da educação ambiental que desenvolvemos também nas escolas.”

Rios e oceanos

Rios e oceanos foram o tema da terceira roda de conversa do encontro realizado pelo Comitê Baía de Guanabara. Jacqueline Guerreiro, que também representou a Trama Ecológica, apresentou as contribuições da OSCIP que atua em favor da promoção da defesa do meio ambiente e preservação das espécies por meio da educação ambiental e valorização da vida. “A Trama Ecológica possui diversos projetos estruturantes que envolvem educação ambiental. Com relação à luta pela água como direito humano fundamental, desenvolvemos ações voltadas para a construção, inserção e engajamento de políticas públicas. A OSCIP participa ativamente de conselhos e conferências de políticas públicas, além de participar efetivamente do CBH Baía de Guanabara em ações voltadas para a gestão e preservação dos rios e oceanos.”

Representante da comunidade de pesquisadores artesanais, por meio da Associação Homens e Mulheres do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar), Alexandre Anderson compartilhou as experiências de monitoramento e fiscalização com o projeto De Olho na Guanabara. “Hoje nós temos um aplicativo simples e acessível a todos, que permite a denúncia anônima de irregularidades ambientais nos cursos d’água da bacia”, disse.

A Associação Piratininga Surfe Clube, situada na região entre o mar e o sistema lagunar ao norte da Baía de Guanabara, realiza um importante trabalho de instrução na escola de surfe para crianças e jovens, abrangendo um grande público na região, de tal forma que, por meio do contato com o mar, também é promovida a educação ambiental. “A gente atua através do surfe tentando também despertar (as pessoas) para a questão do lixo, da pesca predatória e tantas outras questões da água e meio ambiente”, ressaltou Gustavo Sardenberg, diretor de comunicação do CBH Baía de Guanabara e representante da associação de surfe.

Na quarta rodada de conversa, com o propósito de trazer experiências que possam orientar o processo de formação do Plano de Educação Ambiental do CBH Baía de Guanabara, a bióloga Valéria Marques, do Conselho Regional de Biologia da 2º Região RJ/ES, ressaltou a importância da educação ambiental na formação dos biólogos, profissionais que devem ser aliados dos comitês. “O profissional biólogo, como ser humano que se entende como natureza e agente de transformação da paisagem, com uma visão sensível e inclusiva, que busca compreender a importância dos ecossistemas, ajuda a pensar soluções para recuperar áreas degradadas, mediar conflitos com povos e comunidades tradicionais e grupos vulneráveis”.

Olivar Bendelak, servidor do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (APA de Guapi-Mirim e ESEC da Guanabara – ICMBio), compartilhou a experiência no desenvolvimento de atividades de conservação de manguezal, no leste da Baía de Guanabara. “Trabalhamos com extrativistas, pescadores e pescadoras, com a população em geral e estudantes a importância da preservação deste bioma”. O exemplo das ações desenvolvidas está permitindo recuperar manguezais com o engajamento de toda a população na dimensão da educação ambiental participativa.

O 3° Encontro de Educação Ambiental do CBH da Baía de Guanabara foi encerrado pelo vice-coordenador da CTEM no biênio 2022-2024, José Arnaldo Dos Anjos, que destacou o significado do evento para o Comitê. “Gostaríamos de agradecer a todas as instituições que contribuíram de forma brilhante com o encontro. É um marco no processo de incluir a pauta da educação ambiental no planejamento estratégico do CBH. Tantos bons exemplos da sociedade civil, institutos estaduais e federais e demais organizações são inspiradores para nós”, finalizou.




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