Integração
CBH Baía de Guanabara debate situação da Lagoa Rodrigo de Freitas
Este foi o tema principal de um encontro realizado em parceria com a PUC-Rio e o Comitê Cristo G20
O CBH Baía de Guanabara, em parceria com a PUC-Rio e o Comitê Cristo G20, promoveu, no dia 23 de agosto, o evento “Lagoa Rodrigo de Freitas no G20”. Em três rodas de conversas, foram apresentados um histórico da ocupação lagunar ao longo do século, a situação em que o manancial se encontra e soluções para sua restauração e de outros corpos hídricos no presente e futuro, como forma de preparação para a cúpula do G20, marcada para novembro, no Rio de Janeiro.
Os debates contaram com a participação de instituições que atuam na região, com destaque para a presença dos professores da PUC-Rio, da concessionária Águas do Rio, além de pescadores e pesquisadores. Na abertura do evento, Adriana Bocaiúva, diretora-presidente do CBH Baía de Guanabara no biênio 2022-2024, trouxe uma importante contextualização sobre a atuação e os desafios enfrentados pelo colegiado, dada a região em que o trabalho de gestão das águas é desenvolvido. “Ser um Comitê de Bacia em região costeira confere características específicas ao nosso CBH. A articulação entre a gestão hídrica e a costeira é muito importante, especialmente para a população fluminense, porque a coexistência de corpos hídricos de água doce e salgada resulta em ecossistemas únicos e que precisam ser protegidos”, disse.
Dentre os seis subcomitês do CBH Baía de Guanabara, encontra-se o Subcomitê da Lagoa Rodrigo de Freitas, objeto de debate no evento e que tem fundamental importância para a biodiversidade e a realidade socioeconômica da região. No primeiro painel do encontro, discutiram-se temas pertinentes ao histórico risco hidrológico. Professora do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da PUC-Rio, Ana Cristina Malheiros apresentou o histórico de ocupação do Vale da Gávea. O pesquisador Antônio Krishnamurti, da PUC-Rio, apresentou o “Estudo de cheias urbanas na Bacia Hidrográfica da Lagoa Rodrigo de Freitas” e informou que “com base em modelos hidrodinâmicos, considerando as características da região e a complexidade da rede de drenagem da bacia hidrográfica, conseguimos apontar com maior precisão quais regiões da bacia acumulam mais água, gerando transtornos, e, ao mesmo tempo, utilizamos a ferramenta para pensar soluções.”
Katia Janine, representante da Colônia de Pescadores Z13 – que há mais de 100 anos promove a ocupação sustentável na Lagoa e controla o número de barcos de pesca na região –, lembrou que a situação da Lagoa Rodrigo de Freitas exige cuidados, embora já tenha sido mais crítica, com alto índice de mortalidade de peixes, o que demonstra que o trabalho que está sendo feito com auxílio dos pescadores traz resultados. “Se falarmos que não existe esgoto lançado diretamente na Lagoa, estamos mentindo, então, fazemos um trabalho permanente com a capitania e com os subcomitês de fiscalização e conservação, em respeito ao meio ambiente”, ressaltou a pescadora.
O oceanógrafo Renato Carreira, trouxe ao debate uma reflexão acerca do aumento da incidência de plásticos e microplásticos nos corpos d’água. “A produção total de plásticos pode chegar a 550 milhões de toneladas em 2030, volume 40% superior ao nível atual. Sem o manejo adequado, a grande parte destes resíduos irão alcançar os ambientes aquáticos. Os plásticos são poluentes persistentes e, quanto menores, afetam em nível molecular a vida, causando danos irreversíveis à biodiversidade. Hoje a gente verifica microplásticos no sangue, mas ainda pouco se sabe sobre os efeitos dos aditivos químicos presentes nos microplásticos e seus efeitos sobre a saúde humana e ambiental”, ressaltou o professor do Departamento de Química da PUC-Rio.
Nesse sentido, a microbióloga ambiental Marlise Araújo, da Associação Brasileira de Combate ao Lixo no Mar (ABLM), apresentou contribuições sobre os polímeros poluentes nas unidades de conservação marinhas. “Oitenta por cento da poluição que atinge os rios, lagos e mares sai hoje do continente, afetando, inclusive, a Lagoa Rodrigo de Freitas. Na década dos oceanos, os microplásticos são uma ameaça ao planeta.” A pesquisadora lembrou ainda que é preciso incluir nos debates propostas de defesa da qualidade das águas, ações para difundir os princípios da educação ambiental e a importância de incluir o monitoramento de microplástico nas análises de qualidade d'água feita pelos órgãos ambientais.
Busca por soluções
No segundo painel do evento, foram apresentadas possíveis soluções para os problemas levantados. A concessionária Águas do Rio, por meio do Diretor Institucional, Sinval Andrade, deu destaque à revitalização dos sistemas de coleta, bombeamento e tratamento de esgoto, que vem impedindo que o esgoto in natura atinja a Lagoa e observou que o trabalho em conjunto com o CBH Baía de Guanabara ajuda a identificar eventuais lançamentos irregulares e danos nas redes da região, contribuindo para a manutenção dos avanços alcançados na qualidade da água da Lagoa.
Suema Branco, bióloga e coordenadora do Subcomitê da Lagoa Rodrigo de Freitas, apresentou os benefícios das plantas aquáticas para os sistemas lagunares. “Essas plantas prestam naturalmente diversos serviços ecossistêmicos, fornecendo uma série de benefícios ao ser humano e ao meio ambiente. Como exemplo, podem contribuir para a restauração de lagos eutrofizados, revertendo o quadro de uma água turva para um estado de água clara". A pesquisadora apontou que a planta aquática Ruppia maritima pode colaborar para a melhoria da qualidade de água da Lagoa Rodrigo de Freitas, desde que seja feito o correto manejo desta planta no ambiente.
Miguel Paranaguá, diretor executivo do Instituto-E, apresentou no evento o Projeto Restinga, que promove a recuperação da costa brasileira, por meio do cuidado com a vegetação nativa das praias do Rio de Janeiro. “Trata-se de um projeto pioneiro, que resgata a vegetação original e traz de volta o equilíbrio ao nosso litoral”, ressaltou.
Discussões sobre a destinação do lixo também marcaram o evento, uma vez que esse é um problema significativo para a lagoa e todas as unidades de conservação afetadas pelo contato humano direto ou indireto. Vera Chevalier, que atua na coordenação do Subcomitê da LRF, e Eduardo Bernhardt, consultor ambiental da Ecomarapendi, trouxeram importante contribuição acerca da cultura do descarte. “Precisamos evoluir para a educação ambiental crítica. Nesse sentido, fazer mutirões de limpeza é importante, mas é preciso ensinar as pessoas a pensar o meio ambiente além da questão do lixo, da água, da poluição. Precisamos pensar o todo para atacar a causa dos problemas e não só as consequências”, ilustrou.
Por fim, os participantes avaliaram as contribuições de cada uma das reflexões apresentadas. Ficou evidente que a Lagoa Rodrigo de Freitas se insere em um contexto global, o que exige pensar, de forma ampla e coordenada, soluções para o meio ambiente.
Gilson Araújo Júnior, coordenador de relações internacionais do Santuário Cristo Redentor e secretário executivo do Comitê Cristo G20, ressaltou a importância de que o país e o estado assumam o compromisso de construir um mundo justo e um planeta sustentável. “Temos uma responsabilidade social e ambiental enorme, um G20 com a participação da sociedade civil como nunca, portanto, precisamos falar”, finalizou.
Confira o evento na íntegra pelo canal do YouTube do Comitê Baía de Guanabara.
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