Foto: Luiza Bragança
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Lagoa Rodrigo de Freitas, espaço de mobilizações e de lazer

Local carrega um pouco da história do Rio de Janeiro e faz parte da memória afetiva de muitos de seus frequentadores

Cenário de beleza exuberante, a Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio de Janeiro, é um dos mais belos cartões postais da cidade. Tombada pelo IPHAN como Patrimônio Cultural Brasileiro, a lagoa foi adotada pelos cariocas como um grande parque, destinado ao lazer, turismo e práticas esportivas.

Atualmente, entretanto, seus oito quilômetros de orla revelam uma paisagem bem diferente daquela que foi observada pelos portugueses por volta de 1565. Ao longo de quase cinco séculos de ocupação, a região passou por muitas mudanças e intervenções, que resultaram no aterramento de mais da metade de sua extensão original. Hoje, a área é uma das mais valorizadas da cidade e considerada ponto de convergência de vários bairros e de passagem de moradores da Zona Sul.

Localizada no bairro da Lagoa e margeada pelas avenidas Epitácio Pessoa e Borges de Medeiros, a Lagoa Rodrigo de Freitas – na verdade, uma laguna de água salobra, pois mantém comunicação com o mar através de um canal – carrega um pouco da história do país e faz parte da memória afetiva de muitos de seus frequentadores. Seu espelho d’água, inclusive, foi tema de inúmeras obras de artistas que visitaram a cidade desde o fim do período colonial, sendo objeto de pinturas, poemas, obras literárias, televisivas e cinematográficas.

Nos últimos anos, a preocupação ambiental e a poluição de suas águas fizeram com que a população local se mobilizasse e forçasse o poder público, bem como os próprios cidadãos, a se conscientizarem e a agirem em prol de sua preservação.

Ações de restauração

Desde 2021, diversas ações de recuperação e manutenção do sistema de esgotamento sanitário foram realizadas na área, principalmente pela Águas do Rio, concessionária responsável pelo abastecimento de água e esgotamento sanitário em vários municípios do estado e de bairros da capital.

Com as intervenções, cerca de 5,1 milhões de litros de esgoto deixaram de ser jogados na lagoa diariamente e já é possível perceber águas mais cristalinas e o restabelecimento da vida animal. O espelho d’água ainda enfrenta, contudo, vários desafios.

De acordo com a coordenadora do subcomitê Lagoa Rodrigo de Freitas, do CBH Baia de Guanabara, Vera Chevalier, ainda são registrados lançamentos esporádicos de esgoto na rede, especialmente provenientes de ocupações irregulares, que despejam dejetos nos rios contribuintes da lagoa. “Infelizmente ainda enfrentamos essa realidade, mas, nos últimos anos, com a união de várias entidades e da sociedade civil organizada, foram implementados alguns procedimentos que ajudaram a melhorar a qualidade das águas da lagoa”, salienta.

Mobilização popular

Nas últimas décadas, protestos contra a poluição da lagoa se tornaram comuns na região. Uma das manifestações mais emblemáticas ocorreu em março de 2000, quando cerca de 10 mil pessoas se vestiram de branco para "abraçar" a lagoa. A mobilização popular questionava os governos municipal e estadual e propunha aos moradores que assumissem o protagonismo no cuidado do local. “Isso provocou inúmeras pessoas, associações e instituições para que começassem a se mobilizar pela qualidade das águas da lagoa. A Associação dos Moradores do Bairro Jardim Botânico, por exemplo, passou a pressionar o poder público para que fossem identificados os lançamentos irregulares na rede pluvial”, lembra Vera Chevalier.

Na mesma época, a patrulha ambiental da Secretaria de Meio Ambiente do Município se tornou mais presente no local e passou a se constituir em mais um importante agente de prevenção, ao zelar pela temperatura da água, trabalho que conta com o apoio da Colônia de Pesca Z13, presente há 100 anos na região e que é a primeira a perceber qualquer alteração na água. “A sinalização dada pelos pescadores é fundamental. Quando há mudanças na temperatura, na qualidade da água, no comportamento dos peixes, são eles que informam a situação aos órgãos responsáveis”, explica.

Ainda assim, a mortandade de peixes não foi eliminada por completo. O último episódio foi registrado em dezembro de 2018, quando foram retiradas 21,8 toneladas de peixes mortos. A Secretaria de Conservação e Meio Ambiente informou à época que a morte dos peixes ocorreu em decorrência da proliferação de cianobactérias e fitoplânctons, presentes no sensível ecossistema da lagoa.

História

Conhecida pelos indígenas nativos da região como Camambucaba ou Sacopeña, Sacopã ou dos Socós (raízes chatas), a localidade passou a ter o nome atual em 1660, quando as terras foram adquiridas por Rodrigo de Freitas Castro e Mello, que, ao voltar para Portugal, deixou a área de herança para seu filho de mesmo nome.

A área apresentava terras de boa qualidade para o plantio da cana-de-açúcar. Já em 1575, dez anos após a fundação oficial da cidade, foi criado às margens da lagoa o primeiro engenho. Segundo estudo do professor Antônio Edmilson Martins Rodrigues, citado em artigo publicado no periódico Oecologia Australis, em 2012, a partir do plantio da cana as margens da lagoa foram sendo ocupadas. “No século XVII, toda a borda da lagoa do sopé do Maciço da Tijuca, desde o Humaitá ao Leblon e Gávea, estava cheia de canaviais”, diz o texto.

Já no final do século XVIII, com as crises que afetaram a economia do açúcar, os engenhos iniciaram sua decadência. As áreas dos engenhos foram loteadas e a região passou por uma grande transformação na paisagem e chácaras passaram a ocupar as antigas áreas dos engenhos.

No início do século XIX, com a chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, foi construída em suas terras uma fábrica de pólvora e também o Jardim Botânico. “Com essas iniciativas, começaram a ocorrer mudanças na paisagem da região, com a tentativa de definição da região como provável área de investimentos fabris e de referência para pesquisa botânica”, mostra o estudo.

Na primeira metade do século XX, toda a cidade do Rio de Janeiro passou por um processo de modernização. Em 1920, teve início o saneamento da lagoa, com o aterramento e as obras de construção do canal de ligação do manancial aquífero com o mar. Na década de 1960, novos eventos aceleraram as mudanças na região, em especial as remoções das favelas do seu entorno.

Na década de 1970, a especulação imobiliária chegou com força à área da Rodrigo de Freitas e partes da lagoa foram aterradas para a construção de prédios residenciais. Além disso, duas comunidades carentes da região foram erradicadas, as favelas da Catacumba e da Praia do Pinto, o que forçou os moradores dos dois locais a irem para outros pontos da cidade.

Em 1975, após uma série de protestos, inclusive de moradores e arquitetos como Oscar Niemeyer e Lucio Costa, a Lagoa Rodrigo de Freitas e sua orla foram tombadas pelo patrimônio histórico. Naquele período, foi proibida qualquer alteração na linha do espelho d’água, o que restringiu as construções na área em torno da lagoa – e a margem passou a ser utilizada para a construção de área de lazer para a população. Já nos anos 1990, foi iniciado um trabalho de despoluição da lagoa, que segue até os dias atuais. No ano 2000, devido a sua importância paisagística, a Lagoa Rodrigo de Freitas foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Hoje, a Lagoa é uma grande área de lazer, com muitas opções de esportes e passeios turísticos. No espaço é possível andar de pedalinho, de bicicleta, praticar vôlei, futevôlei, yoga, stand up paddle, remo, observar capivaras, caminhar pelo Parque da Catacumba – onde se tem uma vista incrível do espelho d’água –, além de fazer sobrevoo de helicóptero.

Fonte histórica: https://revistas.ufrj.br/index.php/oa/article/download
/8215/6676#:~:text=Tudo%20isso%20reunido
%2C%20gerou%20a,dos%20Soc%C3%B3s%20(ra%C3%ADzes%20chatas)




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