Integração

Capivaras da Lagoa Rodrigo de Freitas são atacadas pela população

Animais que voltaram a frequentar o local após ações de recuperação ambiental estão sendo perseguidos e mortos

Ao longo de décadas, a Lagoa Rodrigo de Freitas, no coração da Zona Sul do Rio de Janeiro, passou por um processo de degradação ambiental devido ao lançamento de efluentes e detritos em suas águas. A situação finalmente está se revertendo, o que pode ser comprovado com o reaparecimento de diversas espécies de animais residentes e aves migratórias, cuja presença tem sido registrada nos últimos anos por biólogos, pesquisadores e pela população. É o caso das capivaras, uma das atrações da lagoa.

O biólogo especialista em gestão e recuperação de ecossistemas costeiros, Mário Moscatelli, afirma que as capivaras haviam sumido do ecossistema e, há cerca de dois anos, um casal se reproduziu, dando origem a seis filhotes. No entanto, de algum tempo para cá, os animais têm desaparecido novamente ou sido encontrados mortos. Moscatelli explica que as capivaras recebem nomes para que possam ser identificados e monitorados.

Em março, Margarida, como era chamada a fêmea mãe dos filhotes, foi encontrada morta com sinais de violência. De acordo com o apurado junto aos comerciantes locais, a suspeita é de que ela tenha sido atacada com pedradas. Também há relatos sobre a invasão de grupos de pessoas indo ao manguezal à noite, quando não há fiscalização, para caçar as capivaras com a ajuda de cães. Apenas o pai, Armando, e uma fêmea restante dos filhotes ainda são vistos na lagoa.

“Algumas pessoas que frequentam a lagoa não respeitam a presença das capivaras. Ano passado houve alguns acidentes envolvendo cães, seus tutores e os animais, que são muito pacíficos, mas que reagem ao se sentirem ameaçados. É sempre bom lembrar que a legislação não permite cães soltos em locais públicos, independentemente do porte”, alega Moscatelli. Ele acrescenta que, com o apoio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, cercou algumas regiões, separando uma pequena faixa às margens da lagoa onde as capivaras circulam, a fim de evitar os problemas causados pela interação dos animais com os humanos. No entanto, ainda é possível chegar bem próximo delas em alguns pontos.

Em 2008, esse espaço foi regulamentado como Área de Proteção Permanente e o seu espelho d’água é tombado desde os anos 1990. O retorno da biodiversidade da Lagoa Rodrigo de Freitas é resultado da soma de esforços que visam à mais do que a melhoria da qualidade de suas águas. Juntamente com as obras de revitalização e modernização no sistema de esgotamento sanitário e recuperação das estações elevatórias realizadas pela Águas do Rio (RJ), a recuperação do manguezal a partir do plantio de espécies nativas foi crucial para renaturalização. “A Lagoa Rodrigo de Freitas é um dos cartões postais do Rio de Janeiro e todo esse trabalho de preservação ambiental colabora com a qualidade de vida de quem mora na cidade e incrementa o turismo local”, afirma o biólogo, que iniciou o replantio de espécies no entorno da lagoa há mais de 30 anos.

O subsecretário de Biodiversidade da Secretaria Municipal do Ambiente e Clima, Hélio Vanderlei, confirma a importância da Lagoa Rodrigo de Freitas como polo de ecoturismo para o município. “O problema no local tem sido uma parcela da população que não aceita ceder um pequeno trecho da lagoa para sua fauna. Por isso, já estamos alinhando, juntamente com o Moscatelli, o cercamento de novas áreas. Já instalamos diversas placas alertando a população quanto aos animais e implantamos a fiscalização ambiental, intensificando as visitas à orla, com o intuito de punir aqueles que passeiam com os cães fora da guia. Além disso, atuamos com dois educadores, que transitam pela orla com o objetivo de promover a educação ambiental no local”, explica.

Vanderlei relata ainda que a Prefeitura do Rio tem realizado, ainda, o monitoramento e a fiscalização da ocorrência de esgotos clandestinos que ainda possam existir na região. Ele alerta que, em caso de suspeita de despejo de esgoto fora da rede, depredação ou violação do meio ambiente, incluindo agressões aos animais, deve-se acionar o Canal de Denúncias, no site da Prefeitura do Rio de Janeiro, ou pelo telefone 1746. “Além de ações concretas e objetivas, que buscam conscientizar para que se possa ter uma lagoa preservada, é preciso que a sociedade esteja vigilante e colabore, entendendo que os animais têm todo o direito de viver naquele espaço”, finaliza Vanderlei.




www.comitebaiadeguanabara.org.br