Foto: Izar Aximoff/Projeto Onças Urbanas
Integração

Fauna da Baía de Guanabara resiste à urbanização

Na região são vistos cavalos-marinhos, tartarugas e uma espécie de onça-parda, animais considerados em extinção. Projetos garantem a preservação das espécies.

A Baía de Guanabara é considerada o berço da biodiversidade no Brasil. Por contar com vários ecossistemas, como mangues, florestas alagadas, rios e águas oceânicas, nela são encontradas diversas espécies animais, como botos, tartarugas-marinhas, caranguejos, aves e felinos. E, mesmo com a poluição desenfreada causada pela urbanização, o que culminou na ameaça de extinção de algumas delas, várias sobrevivem.

Em toda a região, projetos de conservação animal promovem pesquisas sobre comportamento, levantam dados quantitativos e fornecem habitat adequado à sobrevivência animal. Além disso, são realizados registros fotográficos que comprovam a resiliência das espécies e a importância de preservar as diversas formas de vida na Baía.

Caranguejo-uçá


Caranguejo-uçá é importante espécie da APA Guapimirim. Foto: Rodrigo Campanário/ONG Guardiões do Mar

A espécie Ucides cordatus, conhecida popularmente como caranguejo-uçá, é uma espécie muito comum em manguezais da costa atlântica de todo o continente americano, desde o litoral da Flórida, nos Estados Unidos até a região sul do Brasil.

O caranguejo-uçá é um elemento importante para a manutenção do ecossistema de manguezal, uma vez que ele contribui para a degradação da matéria orgânica, por meio do seu seu hábito alimentar, que inclui detritos de origem vegetal. No Brasil, a espécie também tem contribuição socioeconômica, pois a sua captura é fonte de renda e de alimentos para populações que moram nas regiões de manguezal.

O período de defeso e a proibição da venda de fêmeas são procedimentos muito importantes para proteger a espécie, dando a ela possibilidade de se reproduzir e, assim, contribuir para o equilíbrio do ecossistema e para a continuidade do papel socioeconômico.

Na região da Baía de Guanabara o principal habitat é a APA Guapimirim, onde a espécie constrói e sobrevive em tocas que chegam a ter até dois metros de profundidade.

Cavalos-marinhos


Foto: Projeto Cavalos-Marinhos/RJ

Pertencente à família Syngnathidae, do gênero Hippocampus, os cavalos-marinhos são peixes ósseos comuns em águas costeiras. No Brasil, as espécies mais comuns são o Cavalo-marinho-do-focinho-curto (Hippocampus erectus), Cavalo-marinho patagônico (Hippocampus patagonicus) e Cavalo-marinho-do-focinho-longo (Hippocampus reidi) – este é comum no Rio de Janeiro.

O Projeto Cavalos-Marinhos/RJ vem desenvolvendo pesquisas e atividades de educação ambiental voltadas à preservação da espécie na Baía de Guanabara desde 2010 e, notadamente, as populações vêm apresentando crescimento, segundo a bióloga, professora da Universidade Santa Úrsula e doutora em ecologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Natalie Freret-Meurer, idealizadora da iniciativa. “A pesquisa de monitoramento das populações naturais tem mostrado esse aumento da população de cavalos-marinhos para a boca da Baía de Guanabara.”

Ainda de acordo com Natalie, parcerias estão sendo firmadas para a ampliação do projeto. “Recentemente, por meio de uma parceria com a Petrobras e o Iate Clube do Rio de Janeiro, o projeto pode expandir sua atuação para o fundo da Baía, monitorando, inclusive, o Arquipélago de Paquetá”, informa.

E acrescenta: ”Isso é extremamente importante, pois os cavalos-marinhos correm o risco de desaparecer do nosso litoral. A captura para o comércio é uma das principais causas, e o projeto busca incentivar as pessoas a se manter vigilantes e não contribuir com essa prática.”

Tartarugas


Foto: Caio Salles/Projeto Aruanã

No Brasil, são encontradas apenas cinco espécies de tartarugas marinhas, que, infelizmente, estão ameaçadas de extinção. Para a conservação da espécie, o Projeto Aruanã realiza pesquisas científicas e ações de sensibilização social na Baía de Guanabara e regiões costeiras adjacentes, a fim de envolver a sociedade civil na proteção dos ambientes marinhos costeiros. O projeto também monitora a espécie e pesquisa o seu comportamento.

Coordenadora geral do Aruanã, Suzana Guimarães, que é doutora em Biologia Marinha pela Universidade Federal Fluminense (UFF), ressalta a importância da iniciativa para a preservação do ambiente marinho. "Vivemos, atualmente, a Década do Oceano e precisamos mostrar a todos a importância vital que esse ambiente possui. Atuamos em uma região que sofre muito com as ações humanas e a identificação dos locais habitados por tartarugas marinhas e das ameaças que elas estão sofrendo, além da sensibilização do público, por meio de educação ambiental, tem angariado resultados muito positivos.”

Espécies felinas


Onça-parda é vista tomando água em Cachoeiras de Macacu. Imagem: Divulgação canal do YouTube do INEA

Considerada extinta na região, a onça-parda (Puma concolor) é o segundo maior felino do Brasil, perdendo apenas para a onça-pintada. No fim de 2021, foi encontrado na região um indivíduo da espécie, o que renovou as esperanças de que outras onças-pardas venham a ser localizadas.

O fato, inclusive, motivou o lançamento, em junho de 2023, do projeto Onças Urbanas, realizado em parceria com o BioParque do Rio. O projeto tem o intuito de mapear a espécie e conscientizar a comunidade do entorno em favor de sua preservação, como relata o coordenador do programa, o biólogo e pós-doutor em Ciências Ambientais e Florestais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Izar Aximoff. “O projeto Onças Urbanas tem o objetivo de conscientizar a população de que é possível animais e humanos viverem sem conflito nas grandes cidades. O objetivo é que o mapeamento nos permita elaborar uma publicação com todas as localidades onde as onças se encontram no estado.”

Estão sendo montadas “armadilhas” fotográficas em unidades de conservação da região, para que outras onças-pardas possam ser encontradas. Até então, apenas uma delas foi localizada, mas os registros já renderam fotos e vídeos de outras espécies raras, como o gato-do-mato e o gato-maracajá.

Conheça os projetos de conservação animal:

Cavalos-marinhos RJ
Projeto Aruanã
Projeto Onças Urbanas (perfil do instagram do biólogo Izar Aximoff)




www.comitebaiadeguanabara.org.br