Integração
Grito de alerta
Mortandade de peixes afeta sistema lagunar da Baía de Guanabara, principalmente em Piratininga
A Laguna de Piratininga, em Niterói, convive atualmente com uma triste realidade: a mortandade de peixes, que, sobretudo entre o fim de agosto e o início de setembro passado, despertou a atenção de moradores, pescadores, ambientalistas e autoridades públicas.
Tanto que, em 17 de outubro, a diretoria de Segurança Hídrica e Qualidade Ambiental do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA) divulgou um laudo produzido a partir de coleta de amostras das águas da Piratininga, que apontou “floração bastante expressiva de cianobactérias da espécie Pseudanabaena sp., produtoras de cianotoxinas, as quais podem ser tóxicas a outros organismos aquáticos, sendo esta a possível causa da mortandade de peixes observada”. Ainda de acordo com os ensaios analíticos realizados, a situação é explicada pela “elevada carga orgânica e de nutrientes que aporta na lagoa pelo lançamento clandestino de esgoto doméstico”.
Infelizmente, o cenário tem sido recorrente. “A mais recente mortandade se deu em 20 de janeiro de 2024, menos de 30 dias depois de outro episódio, ocorrido em dezembro de 2023”, informa Felipe Queiroz, diretor do Instituto Floresta Darcy Ribeiro (AmaDarcy), associação civil que atua na proteção da Reserva Ecológica Darcy Ribeiro e também na área abrangida pelas bacias hidrográficas das lagunas de Piratininga e Itaipu, situadas no Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET).
Membro titular no Subcomitê CLIP, Felipe destaca que, em 2023, foram registrados cinco episódios desse tipo em menos de um mês, situação caracterizada como desastre ambiental. “Em janeiro, inúmeras espécies foram afetadas, como robalo, corvina e tilápia, que têm grande valor comercial e também social, pois alimentam uma população menos favorecida, que vive da pesca artesanal”.
Ele explica que a Laguna de Piratininga é a que mais sofre com a tragédia, pois recebe grande quantidade de efluentes (esgoto) sem tratamento e também em períodos chuvosos, que frequentemente pode-se observar grandes vazamentos da rede coletora de esgoto da concessionária responsável. Além disso, por conta da obstrução do túnel do Tibau, o volume de água trocado entre a lagoa e o mar atingiu seu nível mais baixo, o que agrava ainda mais a situação, por conta da escassa presença de oxigênio e da proliferação de algas e bactérias.
Desafio histórico
Segundo Alexandre Braga, membro da plenária do CBH Baía de Guanabara como representante do Conselho Comunitário da Região Oceânica de Niterói, as lagunas de Piratininga e Itaipu convivem com problemas ambientais desde os anos 1970, muito em função da construção de um canal que, artificialmente, dividiu a orla de Itaipu e criou a praia de Camboinhas.
Soma-se a isso aspectos como o despejo de esgoto sem tratamento adequado e urbanização desordenada, que contribuem para a degradação progressiva da qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos. Além das consequências ambientais, a mortandade de peixes afeta diretamente as comunidades locais, que muitas vezes dependem dessas águas para pesca e subsistência.
“O canal permanente que liga a Lagoa de Itaipu ao mar, separando as praias de Camboinhas e Itaipu, diminuiu os espelhos d’água das duas lagunas, nivelando-os ao nível do mar. Isso causou danos ambientais sérios e permanentes, como a alteração do regime hídrico típico dos ambientes lagunares (cheias sazonais), aumento da salinidade das lagoas e da destruição de um dos sambaquis da região”, diz.
A partir daí, relata Alexandre, teve início uma corajosa luta ambiental com a criação de movimentos de defesa das lagoas. Uma das ações pioneiras teve como protagonistas a Federação das Associações de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (FAMA) e o ambientalista e professor Marcello de Ipanema, que denunciaram a destruição dos sambaquis e impediram a continuidade do projeto imobiliário que estava previsto para a região.
Por meio dessas iniciativas, o CLIP vem tentando viabilizar diversas ações para melhorar a qualidade do sistema lagunar de Niterói, articulando junto a outras associações e o Ministério Público do Rio de Janeiro ações de melhorias.
Ainda de acordo com Alexandre, as Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) têm sido insuficientes para conter a poluição das lagunas, mesmo porque nas galerias de águas pluviais é encontrado muito lixo orgânico e inorgânico carreado pelas chuvas. “Nossa esperança é ter uma galeria de cintura e um emissário submarino, pois as lagunas não estão comportando mais os efluentes”, defende.
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