CBH Baía de Guanabara celebra Dia Mundial do Meio Ambiente com novas perspectivas para os recursos hídricos
Plano de Recursos Hídricos da Região V é instrumento importante para diagnóstico ambiental e pode embasar ações de preservação
No Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), celebramos dois importantes marcos para o
movimento ambientalista: os 50 anos da data, instituída em 1972, durante a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia; e os 30
anos da Rio 92, que contou com a presença de chefes de estado dos cinco continentes e deu
origem a importantes documentos, como a Agenda 21, e a conceitos como “desenvolvimento
sustentável”, que até hoje balizam as discussões sobre meio ambiente no mundo.
Décadas depois, o planeta enfrenta uma tripla crise, que envolve mudanças climáticas e perda
de biodiversidade. Ações concretas se tornam ainda mais urgentes diante de eventos
climáticos atípicos, como ondas de frio e de calor, chuvas em grandes volumes ou extensos
períodos de estiagem, que têm se tornado mais frequentes em todo o mundo. O Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas
(ONU), divulgado este ano, aponta que a crise climática é causada pela ação humana e tem
efeitos irreversíveis, que afetam principalmente a parcela mais vulnerável da população
mundial.
A região hidrográfica da Baía de Guanabara, por exemplo, vem registrando verões cada vez
menos chuvosos, caracterizados por temperaturas mais elevadas, um fator de risco para a
crise hídrica que pode afetar a vida de aproximadamente 10 milhões de pessoas. A confluência
desses elementos com a crescente demanda por abastecimento, a ausência de planejamento
urbano e a falta de estrutura básica de saneamento delineiam um cenário ainda mais
calamitoso, se nada for feito.
De acordo com a presidente do Comitê da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara, e
Sistemas Lagunares de Maricá e Jacarepaguá, Christianne Bernardo, antes de se pensar em
soluções de preservação ambiental, é preciso estabelecer políticas públicas centradas no uso
consciente dos recursos hídricos e na melhoria da qualidade de vida da população. “A
mudança desses prognósticos depende de um esforço conjunto de todos os setores da
sociedade. Mas, para que a população se comprometa, é preciso prover recursos básicos como
coleta de esgoto e de lixo”, analisa.
O Comitê tem como missão integrar os esforços do poder público, dos usuários e da sociedade
civil na gestão dos recursos hídricos, a fim de possibilitar seus diversos usos. Um dos seus
instrumentos de gestão é o Plano de Recursos Hídricos da Região V (PRH-RV), documento que
reúne uma ampla gama de informações, estudos técnicos e prognósticos para orientar a
tomada de decisão por parte dos gestores e da sociedade em geral no que diz respeito ao uso,
gerenciamento, recuperação, proteção e preservação dos recursos hídricos.
Boas perspectivas
Além de diagnósticos e prognósticos, o Plano de Recuperação engloba um Manual Operativo
(MOP) que lista ações detalhadas para a melhoria da qualidade das águas, que podem
impactar positivamente no meio ambiente e na qualidade de vida da população. Segundo o
coordenador do Subcomitê Oeste, da Câmara Técnica de Instrumentos de Gestão e do Grupo
de Acompanhamento do Plano de Bacias , José Paulo Azevedo, desde 2019, vêm sendo
implementadas mudanças significativas na área de saneamento, que trazem novas
perspectivas para a região. Entre elas o Novo Marco Regulatório e a concessão dos serviços de
coleta e tratamento de esgoto para empresas privadas. “Estamos vivenciando o início de uma
revolução no que diz respeito à redução no lançamento de esgoto, que é em grande parte
responsável pela má qualidade das águas dos rios e, consequentemente, da Baía de
Guanabara”, afirma.
Membro da Coordenação Colegiada do Subcomitê Lagoas de Itaipu e Piratininga (CLIP), Carlos
Jamel reforça que a maior preocupação hoje está relacionada à enorme carga de efluentes que
chegam aos córregos e sistemas lagunares da Baía de Guanabara. “Ainda temos uma grande
quantidade de esgoto clandestino chegando às lagunas e, mesmo os efluentes que passam por
estações de tratamento, ainda carregam uma carga de nutrientes. Nossa preocupação é saber
se esses aportes estão dentro da capacidade de suporte das lagunas”, afirma. Outro ponto de
atenção, segundo Carlos, é com a ocupação urbana das áreas próximas aos sistemas lagunares,
pois elas abrigam um ecossistema periférico importante para a manutenção dos corpos
hídricos. “Existe uma pressão muito forte do setor imobiliário. Temos hoje, por exemplo, na
Lagoa de Piratininga (em Niterói), uma ocupação urbana que chega muito perto do espelho
d’água e queremos evitar que o mesmo aconteça em Itaipu”, diz.
Segundo ele, uma das conquistas mais importantes do CLIP foi a demarcação física da Faixa
Marginal de Proteção do entorno da Lagoa de Itaipu, por meio de verbas destinadas à
proteção dos recursos hídricos. No local, ainda se tem um ecossistema muito conservado,
composto por sistemas de mangues, brejos e restinga, tão vitais quanto o corpo d’água e que
constituem Área de Preservação Permanente. “Felizmente, temos as FMPs, decretadas desde
2010 para nosso sistema lagunar, protegendo ecossistemas essenciais na mitigação dos
impactos da elevação do nível das marés sobre a cidade”, conclui.
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